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Carta da Indústria: Boas perspectivas para 2019

Confira a entrevista com o economista José Ronaldo de Castro Souza Júnior para a edição de janeiro da Carta da Indústria. 

Expansão de 2,9% do PIB do Brasil – com o estado do Rio podendo superar esse percentual – e inflação sob controle, na casa dos 4%. Essas são as previsões de José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para 2019, caso o país consiga enfrentar seu maior desafio: implementar as reformas, sobretudo da Previdência, para reduzir os gastos públicos. O sucesso dessa agenda, alerta Souza, é importante também para preparar o país diante dos impactos da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

CI: Quais as projeções para a economia em 2019?

José Ronaldo: As projeções dependem muito das mudanças que estão sendo propostas neste momento. Caso o governo seja bem-sucedido na implementação das reformas que reduzirão os gastos públicos, naturalmente um quadro melhor se coloca. Nesse caso, projetamos um crescimento do PIB de 2,9% em 2019, que é um bom percentual, e uma retomada da economia com inflação sob controle, em torno de 4,2%. Seria uma situação bastante confortável.

CI:Quais as estimativas para o Rio? O estado pode atingir essa média de crescimento?

José Ronaldo: No caso do Rio, a questão do petróleo, que vem retomando o investimento e tende a intensificar esse processo com as empresas estrangeiras, pode ter um impacto até mesmo mais significativo para o estado. Outra questão são os investimentos em infraestrutura, que, se caminharem, podem gerar bons resultados. O estado tem boa vocação nessa área.

CI: Como ficam as projeções, sem reformas?

José Ronaldo: Nesse caso, a situação pode se complicar, porque, sem reformas, é difícil manter o teto dos gastos públicos. Com isso, é difícil reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, o que poderia aumentar muito o prêmio de risco do país e, em consequência, gerar uma nova crise fiscal e até mesmo, em caso extremo, uma nova recessão. A reforma da Previdência é a principal delas, para conter os gastos federais, estaduais e municipais, mas há outras mudanças, como o abono salarial e o teto do salário mínimo, que podem também conter os gastos públicos. Outras reformas, como a tributária, seriam muito positivas para a economia e podem dar impulso adicional, mas o urgente é a questão dos gastos.

CI: Quais são os cenários relacionados ao panorama internacional, incluindo os impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China?

José Ronaldo: Temos alguns riscos de agravamento do panorama internacional. A guerra comercial é um dos principais pontos, porque pode prejudicar muito o crescimento da economia do mundo inteiro, não só da China. Os Estados Unidos podem ter uma perda considerável. O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula em torno de um ponto percentual a menos de crescimento nos Estados Unidos por conta de um agravamento da guerra comercial. Isso, de fato, cria um risco adicional para o Brasil. Os impactos são imprevisíveis. A depender do grau dessa crise, podem contaminar para mais ou para menos. A própria contaminação no Brasil depende de quão preparado a gente está em relação às reformas que impactam internamente e ajudam a prevenir os efeitos de uma crise vinda de fora.

CI: Quais setores da economia devem ser mais impactados?

José Ronaldo: No caso do minério, não só a guerra comercial, mas também a desaceleração da economia da China e a consequente redução dos investimentos tendem a gerar diminuição de demanda ou pelo menos uma influência no crescimento do setor. Mas é muito difícil prever impacto da guerra comercial específico num segmento, porque ela tem um viés negativo para toda a cadeia de comércio internacional. Tudo o que exportamos pode ser afetado, embora os produtos agrícolas não me pareça ser o grande foco da discussão, além de termos bastante competitividade. O petróleo também não. São mais os produtos industrializados. O setor de automóveis está vivendo uma fase de retomada. Se a economia tiver um bom crescimento como projetamos, tem boas perspectivas internas e, externamente, pode conseguir novos mercados.

CI: Quais os desafios da indústria diante desse cenário?

José Ronaldo: No caso da indústria de transformação fluminense, são dois grandes desafios: resolver entraves logísticos, que não são tão graves quando comparados a outras regiões, mas atrapalham o desenvolvimento; e a questão da segurança pública, que tira investimento do estado. Com a intervenção federal já houve alguma melhora, pelo menos com relação ao roubo de cargas e outros. Esse processo tem que continuar para dar tranquilidade ao investidor, para que ele confie no retorno de seu investimento, não tenha tanto risco e reduza o custo de controle, que impõe uma queda no retorno esperado.

CI: Em 2018, exportar e vender para outros estados foram alternativas importantes para a indústria fluminense. Isso mudará em 2019?

José Ronaldo: Acho que não. O lado positivo de uma crise é procurar alternativas para reduzir sua exposição ao risco, o que inclui não depender de um estado só. Quando a empresa procura outros estados, deixa de ter as vantagens locacionais e passa a ser mais competitiva, porque sabe avaliar melhor o que seus concorrentes estão fazendo. Isso é bastante positivo, especialmente para quem exporta, que precisa estar atento, de fato, para a qualidade e a competividade. Isso só melhora a situação dessa indústria, e as que conseguirem ter sucesso devem continuar, mesmo que o estado do Rio retome seu crescimento. Quanto à guerra comercial, acho que não terá tanto impacto direto nesse momento inicial, até porque o Brasil vai caminhar para uma agenda de acordos de cooperação bilaterais, não somente por blocos. A indústria tende a ganhar mercado com isso. Há mudança de visão do que se pretende em relação à política de comércio internacional. A visão agora, aparentemente, será mais de ampliar a competitividade da indústria nacional, buscando novos mercados ou pelo menos ampliando aqueles deixados de lado.

CI: Será possível fechar acordos positivos para o Brasil?

José Ronaldo: Vai depender muito também da própria agenda interna de apoio à competitividade. Uma reforma tributária pode ajudar. Mudanças na legislação trabalhista também podem contribuir, mas a reforma feita já ajuda. Isso pode levar a um debate de melhora do ambiente interno para que o país se torne mais competitivo externamente.

CI: O mercado de P&G tende a ser o motor da economia do estado do Rio novamente?

José Ronaldo: A indústria de petróleo e gás dará o impulso, mas o estado deveria se utilizar muito melhor de toda sua riqueza de capital humano. Temos de migrar para a economia digital, sem deixar o petróleo de lado, mas investir mais na melhoria do ambiente para a inovação, para que as startups cresçam. Esse é o grande ponto onde a economia, principalmente da capital, tem mais potencial.

CI: Como você vislumbra o estado do Rio daqui a alguns anos?

José Ronaldo: O grande xis é minimizar questões que hoje travam todos os setores. A violência é o ponto inicial. O segundo são as finanças públicas estaduais, com a questão previdenciária despontando como o aspecto mais grave, inclusive em outros estados, prejudicando os serviços públicos. As vocações naturais da cidade, que são turismo e serviços de alto nível, precisam ter estímulo para florescer. A carga tributária também não pode inviabilizar os negócios. Cuidado com o que chamamos de Curva de Lafer: aumentar imposto demais acaba diminuindo a arrecadação, porque mata os negócios. Tem que fazer estudos específicos, pensando nas consequências. Se abrir mão de imposto, gerar aumento na economia, o efeito pode ser nulo na arrecadação, mas com crescimento do PIB.

CI: Além desses pontos, como melhorar o ambiente de negócios para a indústria?
José Ronaldo: Eu olharia os indicadores tradicionais do Relatório Doing Business, do Banco Mundial, e tentaria atacar cada um daqueles pontos: tempo de abertura e fechamento de firma, facilidade de fazer negócio, de pedir licenças, enfim, aspectos burocráticos do serviço público. Poderíamos ter uma coordenação para gerir melhor esse esforço nos três níveis: federal, estadual e municipal.

Sobre a Carta da Indústria

Revista que representa a indústria fluminense, com conteúdo relevante que impacta os negócios empresariais. A Carta da Indústria já conquistou três prêmios Aberje na categoria melhor jornal externo do estado e dois como melhor jornal externo do país. Com tiragem média de 10 mil exemplares, seu público-alvo é composto por empresários e instituições formadoras de opinião. Confira aqui as outras edições do informativo.

Fonte: Firjan

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